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A crise do Transporte Público é fictícia

Por Joana Boaventura e Wagner Jardim[1]



A categoria dos trabalhadores e trabalhadoras no Transporte Público é, no relativo à Luta de Classes, uma categoria com largo histórico de enfrentamento à Patronal contra os constantes ataques. O último período, em especial durante a Pandemia de Covid-19, vivemos drástica mudança na sociabilidade e foi também a oportunidade esperada pelo Capital para avançar pautas anti-povo, de continuidade da precarização do serviço e de privatizações. Nisso, governos estaduais e municipais não possuem qualquer contradição com a política ultra neoliberal de Bolsonaro-Guedes. De grande importância para o conjunto da classe trabalhadora, os transportadores urbanos são, da mesma forma, taticamente importantes, pelo grande potencial de mobilização.

Os rodoviários de Porto Alegre há muito enfrentam governos municipais neoliberais que frequentemente propõem ataques aos direitos trabalhistas da categoria. Nos últimos quatro anos, sob o governo do tucano Nelson Marchezan Júnior, a tensão aumentou bastante. Do primeiro ao último ano de mandato, ele atacou a categoria. Com muita organização, a categoria conseguiu barrar o projeto 15/20017, enviado em 2019 á Camara de Vereadores da capital, que previa a extinção gradual do cargo de cobradores de Marchezan e acarretaria no encerramento de cerca de 3.600 cargos de trabalho. Mas as lutas não se encerram. Além da luta por melhores salários, os rodoviários lutam constantemente por mais segurança para trabalhar. A rotina extenuante é, invariavelmente, acompanhada do medo de assaltos, comuns em transportes públicos.

Afonso Martins, funcionário da Carris, empresa pública de transporte coletivo de Porto Alegre, delegado sindical, representante de oposição a atual direção do Sindicato dos rodoviários de Porto Alegre, em entrevista ao Fronteira Vermelha, expôs com muita clareza, a crise do transporte rodoviário urbano.[2] As tentativas do governo de atingir a classe, usando a direção burguesa do sindicato e a derrota que lhes foi imposta, quando, na Câmara de vereadores só não aprovou a lei que terminava com a função de cobradores e cobradoras nos ônibus de Porto Alegre devido à grande mobilização da categoria. Sabe-se, nada é definitivo no capitalismo, principalmente, as conquistas, resultantes de lutas incansáveis dos trabalhadores e das trabalhadoras. Sebastião Mello, atual prefeito, voltará à carga com força total e inclusive levando a diante promessa de campanha de privatização da carris, que tem atualmente mais de três mil funcionários/as.

Ele alega que a empresa centenária, emblemática para a cidade, para os rodoviários e para o conjunto da classe trabalhadora, tem muitas despesas, uma imensa dívida trabalhista. Mello propôs ainda, como justificativa para a privatização, que a prefeitura da capital precisa fazer aportes vultuosos à companhia, para a sua manutenção. Ele não diz, porém, que o município faz esses aportes porque transformaram a Carris em um cabide de empregos. Na Carris, há uma casta com altos honorários, enquanto, os trabalhadores e as trabalhadoras têm salários baixos e reduzidos com longas extenuantes jornadas de trabalho, graças às MPs de Bolsonaro, que permitem em plena pandemia, a redução salarial na ordem de 70%.

Frente a tudo isso, o que representa para a classe trabalhadora um transporte urbano que dê conta de suas necessidades? A capital tem a mais alta tarifa de transporte urbano em todo o país. Durante a pandemia, as trabalhadoras e os trabalhadores se apinham dentro dos ônibus e trens, porque a frota foi reduzida, e porque faltam os tão propalados protocolos sanitários. O vírus não se descola da classe trabalhadora. Prova disso é que muitos empregados do transporte adoeceram e, ou morreram de Covid-19, assim como, os usuários. Essas mortes passaram longe dos noticiários da mídia burguesa.

As empresas privadas lucram muito em meio à doença. Normalmente, já detém o filé do transporte, agora, com frota reduzida, salários congelados, aportes de verba pública, deixaram para a Carris, as linhas deficitárias e a garantia de transportar os trabalhadores e as trabalhadoras diariamente na cidade.

Não fosse o bastante, a ATP – órgão que reúne as empresas de transporte propõe aumento de tarifa para R$ 6,00 e joga contra a categoria a responsabilidade do aumento tarifário, quando afirma que não será possível aumentar o salário e que a redução salarial deve ser assegurada até o mês de agosto. A proposta indecente consegue piorar quando, em alto e bom tom afirmam que para atender a demanda da categoria, a tarifa teria de passar para R$ 7,00, assim, joga os rodoviários contra outras categorias, pois torna suas lutas por melhor remuneração, uma atitude antipática ao conjunto da classe, usuária do transporte público.

De tudo isso, o que fica evidente é que o Sindicato se aburguesou, defende a patronal, oprime, ameaça e assedia ou permite o assedio à categoria, especialmente, às mulheres, ao ignorar as suas denuncias. É a barbárie! O que era ferramenta dos trabalhadores e das trabalhadoras deixou de ser e passou a representar o braço repressivo da classe proprietária.

Se o sindicato e as centrais tivessem direções aguerridas e de luta, tomariam a Carris e administrariam publicamente em conjunto com a classe trabalhadora.

[1] Professora e professor da rede pública estadual do Rio Grande do Sul; produtores e apresentadores do programa Fronteira Vermelha, no canal AllaMattian do Youtube.

[2] Para ver a entrevista completa, acesse o endereço: https://www.youtube.com/watch?v=LbuxoYZvTjQ&t=277s

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