Por Luciano Pimentel e Wagner Jardim
Lula é, talvez, o maior líder político que emergiu das lutas contra a ditadura civil-militar brasileira. Desde os anos 1970, quando comandava o sindicato dos metalúrgicos do ABC, no enfrentamento a ditadura, demostrava que tinha carisma e liderança. As greves botaram em cheque a ditadura, que procurava reprimir os trabalhadores, impedindo as organizações classistas de disputarem a consciência das massas. Já nessa época, no entanto, Lula já despontava como um grande conciliador de classes, como demonstra, de forma belíssima, o documentário ABC da greve, de 1990.
De 1989, primeira eleição, a vitória em 2002, Lula passou por diversas transformações, cada vez mais adaptado aos status quo da sociedade brasileira, convencido por reformas poucos estruturais, jamais propôs atacar a propriedade privada ou reverter os séculos de exploração da classe trabalhadora. Foi o melhor administrador do capital, mais eficiente do que a direita. Nem a Reforma Agrária, típica reforma burguesa, os governos do Partido dos Trabalhadores, avançaram.
Isso nos remete a uma constatação, obtida indiretamente, através de uma ex colega do Mestrado, na Universidade de Passo Fundo, que, pesquisando a Reforma Agrária no oeste de Santa Catarina, ouviu de um líder sem terra que o FHC fizera mais desapropriações do que Lula, o que, para ele, era caro afirmar, pois, como dissera, “somos vermelhos”, se referindo a militância petista.
Mesmo não sendo um revolucionário, muito antes pelo contrário, Lula fora perseguido pela justiça brasileira, preso após um julgamento com cartas marcadas, entre promotoria e o juiz sentenciador, amargou 580 dias na cadeia. Solto, fez um discurso conciliador, com os olhos observando as eleições de 2022, com o objetivo de captar setores que no passado, votaram contra o petismo.
No debate do último dia 20 de março, o Fronteira Vermelha discutiu com o advogado, militante de direitos humanos, Júlio Ramos. Na oportunidade foi possível tratar de diversos assuntos, como a própria prisão de Lula as perspectivas futuras para a classe trabalhadora. Ramos ressaltou o caráter burguês da justiça brasileira que prende e condena sem provas, como é o próprio caso em questão. Também trouxe a luz do debate a importância de Comissões de direitos Humanos e o papel fundamental que cumprem na defesa dos direitos mais fundamentais da sociedade.
Ramos colocou sobre os ataques do Bolsonaro contra liberdade de expressão, fatos que ocorreram no brasil em que a crítica a políticas começa a ser reprimida. Outro ponto foi a relação da prisão de Lula com o golpe na Dilma e nos trabalhadores de 2016. Ramos critica a política lulista por ter sido mais conciliatória do que emancipatória, sobretudo por não tem sido mais profundo nas reformas.
O convidado vê com certas reticências uma candidatura Lula novamente, crê que haverá uma nova mobilização do judiciário para torna-lo inelegível e assim abrir caminho para uma candidatura de centro-direita. Nesta terça-feira, 23 de março de 2021, a 2ª Turma do Supremo julgou o Ex-juíz Sérgio Moro suspeito. Ou seja, um rearranjo no jogo político que pode levar o petista novamente ao governo.
Lula nunca foi e continua não sendo intragável pela burguesia. Ele fora, no máximo, um pouco indigesto. Lula mesmo reiterou várias vezes que nunca os banqueiros ganharam tanto dinheiro, como no seu governo. O “mercado” reagiu bem à fala de Lula, logo após a decisão do ministro Fachin de mudança de foro, nos casos que o ex-juíz julgara o petista. Soma-se a isso, o derretimento de Bolsonaro e a incapacidade da direita tradicional de emplacar um nome para vencê-lo, Lula novamente se apresenta como o pacificador do país. A que custo para a Classe Trabalhadora? Bem esse filme já vimos.
O aceno de Lula a uma ala dos militares, que levou a cogitação de que o ex ministro bolsonarista Santos Cruz fosse seu vice ou mesmo bandeirada que ele agitou para o líder do imperialismo Joe Biden, reforçam a tese de que ele está sendo novamente preparado para o cargo.
Não temos, em hipótese alguma contrariedade com a candidatura de Lula, menos ainda, por que isso representa um forte golpe no Golpe. O que nós queremos mesmo e a imensa maioria da Classe Trabalhadora quer é um Lula e um PT com um programa de fato para trabalhadores, para democratizar o debate político. Não temos, no entanto, nenhuma ilusão de que isso ocorrerá. Por isso, é fundamental o movimento da população trabalhadora nacional. Lutemos contra Bolsonaro e o bolsonarismo, genocidas.
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